Podcast #1: Entrevista com a professora Raquel Silveira

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Neste nosso primeiro podcast, eu tenho a honra e a satisfação de realizar uma entrevista com a professora Raquel Silveira, integrante do corpo docente do curso de Bacharelado em Ciência da Computação e do curso Técnico em Informática do IFCE, campus Tianguá. Confiram!

imagem da professora raquel
Profª Raquel Silveira

A professora Raquel Silveira possui graduação em Tecnologia de Alimentos pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico e graduação em Ciência da Computação pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. Possui especialização em Vigilância Sanitária pelo INTA, especialização em Engenharia de Software pelo INTA e especialização em Formação Pedagógica pelo Instituto Federal de Educação do Ceará. Possui mestrado em Ciência da Computação pela Universidade Estadual do Ceará e doutorado em Informática Aplicada pela Universidade de Fortaleza. Atualmente é professora do IFCE campus Tianguá.

Entrevista

Profa. Cynthia: Obrigada, professora Raquel, por participar do nosso podcast. Você está sendo nossa convidada de honra porque é a primeira a ser entrevistada e estamos muito felizes por você ter aceitado o nosso convite.

Profa. Raquel: Eu que agradeço, agradeço o convite por estar aqui conversando com você, participando do projeto do Projeto Lua, que acaba sendo um grande estímulo para todas as mulheres do ramo da informática, na área de TI. Então, agradeço por demais o convite que você me fez de estar aqui hoje conversando com você.

Profa. Cynthia: É uma alegria para a gente. Professora, então eu vou começar nossa entrevista e a nossa primeira pergunta é se durante o período em que ainda era discente, se você passou por experiências que evidenciaram a desigualdade de gênero? Teve apoio dentro da academia para seguir o caminho da docência? E também, se você puder relatar, as experiências positivas que serviram de inspiração durante a discência.

Profa. Raquel: Em relação à desigualdade de gênero, no sentido de preconceito, eu não cheguei a vivenciar isso. Mas já antecipo para você que, durante a formação acadêmica, eu fazia dois cursos de forma simultânea: um dos cursos, que foi o curso de Tecnologia de Alimentos e outro curso de Ciência da Computação. Ambos os cursos são majoritariamente de um determinado gênero: o curso de Tecnologia de Alimentos foi e ainda hoje é ocupado predominantemente por mulheres enquanto que o curso de Ciência da Computação é ocupado majoritariamente por homens. Eu vivenciava dois cursos cujo público maior era de um gênero em cada um deles. Mas em relação à desigualdade no sentido de preconceito, não costumava vivenciar. No que diz respeito ao apoio em relação a docência, eu não tinha durante a formação o interesse por seguir na docência. Meu interesse era muito mais de atuar no mercado de trabalho, dentro de empresa. Contudo, eu sempre penso que os professores são exemplos tanto dentro de sala de aula por repassar conteúdo, mas também nos despertam olhares de vivências externas. Então acredito que as professoras mulheres acabaram sendo meu exemplo para a docência. Além disso, destaco que durante a formação acadêmica eu tive a participação em alguns projetos de pesquisa, em que se acaba apresentando trabalhos em público, repassando o conhecimento daquele trabalho de pesquisa. Além disso, tive participação em empresa júnior. Então acredito que por mais que eu não tivesse o interesse no início da formação acadêmica de seguir para a docência, essas atividades acabaram despertando de forma direta e até mesmo indireta para que posteriormente finalizada a formação acadêmica eu pudesse seguir na docência.

Profa. Cynthia: Fale-nos um pouco sobre sua trajetória para chegar onde está no momento. Que experiências você teve no mercado de trabalho? Como foi seu primeiro emprego na área?

Profa. Raquel: Eu cursei dois cursos de graduação de forma simultânea sendo que o curso de Ciência da Computação é um pouco mais longo. Depois disso cursei duas especializações de forma simultânea, uma da área do curso de Tecnologia de Alimentos e outra da área do curso de Computação. Depois disso, eu ingressei no mestrado optando por seguir no ramo da Computação. No mestrado, eu já atuava na docência e, depois disso, ingressei no Doutorado. Pelo fato de estar na docência, eu fiz outra especialização em Ensino Profissional, que pudesse me trazer uma formação pedagógica, para aprimorar o conhecimento no que diz respeito aos aspectos pedagógicos e didáticos. E essa seria a trajetória acadêmica. No caso, estaria até ingressado agora no pós-doutorado. Atrelado à trajetória acadêmica está a trajetória profissional também. No que diz respeito à trajetória profissional de atuação no mercado de trabalho, já atuei em outras instituições de ensino superior que não que não o IFCE e também atuei diretamente no mercado de trabalho em uma empresa de desenvolvimento de software onde eu comecei a trabalhar ainda na formação acadêmica, como estagiária. O ingresso nela me despertou para a área de desenvolvimento de software, uma vez que esta empresa é reconhecida nacional e internacionalmente, possui selo de maturidade de software nível 5.

Profa. Cynthia: Então você considera que o fato de você ter atuado no mercado ajudou também na parte de docência?

Profa. Raquel: Sim, com certeza. Eu acredito que agrega muito. Agrega pela atuação prática, pela vivência, pelas experiências, pela aquisição de conhecimento que acaba agregando valor na atuação docente.

Profa. Cynthia: Com relação à academia, você passou por alguma experiência marcante enquanto professora que queira relatar? Como são suas relações e vivências cotidianas dentro do IFCE?

Profa. Raquel: No que diz respeito a experiências marcantes, posso destacar algumas delas como a criação e o reconhecimento do curso de Ciência da Computação do IFCE, Campus Aracati. Eu acredito que como docentes nós temos um papel extremamente importante de mudar a sociedade, de levar conhecimento a sociedade. Então acredito que o reconhecimento do curso de Computação lá no campus de Aracati foi uma experiência marcante. Além disso, fui premiada com o prêmio “Mulheres na Ciência” do IFCE no ano de 2019, dado os projetos que desenvolvemos e também tivemos a publicação de um livro que foi resultado de um trabalho de dissertação. Todas essas experiências, eu acredito que são frutos do trabalho docente. No que diz respeito às relações e vivências no IFCE, eu sempre relato que o IFCE é um ambiente muito harmonioso e colaborativo, de compartilhamento, de experiências e vivências. Então, eu vejo o IFCE como um ambiente muito saudável, de habilidades, de práticas, de relacionamentos muito saudáveis.

Profa. Cynthia: Professora, durante essa vivência, durante esse tempo que você está como docente, nós vimos que teve várias experiências positivas, mas você passou por alguma experiência negativa também?

Profa. Raquel: No que diz respeito às experiências negativas, diretamente à docência, eu destaco a questão dos estudantes muitas vezes, por fatores diversos, externos e internos, sentirem-se desestimulados em relação ao curso, acabam desistindo por esses fatores. Diretamente eu associo a essas questões. Acredito que seria mais nesse sentido.

Profa. Cynthia: E com relação às discentes do IFCE? Como você vê a atuação delas, de que forma você busca incentivar que elas participem também?

Profa. Raquel: Eu acredito que a formação acadêmica atua como um norte para a formação tanto acadêmica como posteriormente. Nós podemos ter algumas oportunidades durante essa formação, no que diz respeito à participação em projetos de pesquisa, em projetos de extensão. Esses tipos de projetos, essas oportunidades, acabam agregando valor durante a formação que acabam incentivando os aspectos de permanência das alunas no curso, são aspectos de êxito, que acabam prospectando mais conhecimento, estímulo com a área, estar atuando diretamente com o curso. Então acredito que a participação nesses tipos de projetos faz bastante diferença, são diferenciais para a formação e consequentemente para motivação. Eu acredito que para as alunas ingressar nesse tipo de projeto pode fazer diferença.

Profa. Cynthia: Com relação às mulheres na TI nos últimos anos? Você consegue enxergar diferenças de quando você era discente e hoje como docente? Você teria alguma sugestão do que poderia mudar?

Profa. Raquel: Sim, ainda hoje a gente escuta que determinadas profissões não são para mulheres e eu acredito que muitas mulheres acreditam nisso e não se aventuram a entrar nesse mundo. A TI acaba sendo um mercado que é majoritariamente masculino, isso é inegável. Contudo, existe no decorrer do tempo uma mudança gradual nesse sentido, pelo menos é a minha percepção, de que as mulheres estão se envolvendo. Por mais que seja um mercado majoritariamente masculino, eu acredito que está havendo de forma gradativamente lenta a inserção de mulheres nesse mercado majoritariamente masculino. Então pelo menos uma diferença, uma mudança, que eu percebo ao longo desses anos é a inserção gradativa das mulheres no mercado de TI.

Profa. Cynthia: Você acredita que na época que você era estudante tinha menos meninas interessadas na área ou menos oportunidades para elas?

Profa. Raquel: Eu acredito que sim, acredito que existiam menos meninas na área de TI e atualmente esse número ele cresceu. Um pouquinho, mas cresceu.

Profa. Cynthia: Para a gente finalizar, já estamos chegando no finalzinho da nossa entrevista… Qual mensagem ou conselho você acharia importante repassar para as mulheres que escolhem entrar nesse mercado de TI. Você teria alguma mensagem para elas?

Profa. Raquel: Sim, como mencionado na pergunta anterior ainda existem poucas mulheres na TI. Por mais que esse número esteja aumentando, ainda existem poucas mulheres e que nós, como mulheres, não podemos nos deixar influenciar por isso, para não atuar na área de TI. Contudo, uma vez escolhendo a atuação nesse mercado majoritariamente masculino, eu acredito que a gente precisa mostrar nossas habilidades, nossas competências, nossos valores e estarmos dispostas a sermos aquele percentualzinho pequeno, que vai lentamente mudando essa estatística de atuação da mulher no mercado de TI. Destaco ainda que a dedicação ainda é um fator difícil devido a outras atribuições que a mulher acaba carregando dentro da sociedade. Pelo fato de ser muitas vezes mãe e precisar conciliar com a atividade profissional… Então, essas outras atribuições acabam sendo um fator difícil, mas que ao mesmo tempo é determinante para ganharmos espaços. Dado isso, acredito que nós mulheres precisamos estar muito bem qualificadas, preparadas, dedicadas seguras para conquistarmos esse território, para atuarmos na área de TI mesmo.

Profa. Cynthia: Você consegue identificar um desafio para essa nova geração que vai entrar no mercado de trabalho no próximo ano, daqui a dois anos ou que recentemente entrou no mercado de trabalho?

Profa. Raquel: Eu acredito que o grande desafio se dá em mostrar. Haja vista essa quantidade reduzida de mulheres, mostrar as habilidades, as competências para atuar onde nós quisermos. Quer seja no mercado de TI, quer seja em outro mercado. Então acho que o grande desafio é justamente isso: deixar visível, deixar claro que a mulher é extremamente competente, é extremamente habilidosa para atuar onde ela quiser.

Profa. Cynthia: Realmente, professora, é uma grande mensagem para todas as meninas. É muito bom a gente escutar uma mensagem dizendo que todas nós podemos, se a gente se esforçar e que todas nós temos qualidades que podem ser trabalhadas e podem ser aproveitadas em qualquer mercado, inclusive no de TI. Mais uma vez, a gente queria agradecer pela sua participação aqui no nosso projeto, através dessa entrevista, desse podcast. A gente deseja para você muitas felicidades e dizer que você com certeza é um grande exemplo para todas nós aqui do IFCE Tianguá.

Profa. Raquel: Obrigada, Cynthia. Eu reforço mais uma vez meu agradecimento. Eu que agradeço de receber o convite e de estar aqui conversando com você.

Escrito por...

  • Mestre em Ciência da Computação e professora do Curso Técnico em Informática e do Bacharelado em Ciência da Computação no IFCE - Tianguá. Atua em áreas de pesquisa de Engenharia de Software tais como Engenharia de Requisitos, Interface Humano-Computador, Arquitetura de Software e Reuso de Software. É orientadora no Projeto Lua desde 2019.

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