Conheça Ada Lovelace, a primeira programadora da história
por Gabriele Gomes, Poliana Mendes · Published · Updated
Matemática do século XIX, autora do primeiro programa de computador da história, Augusta Ada Byron King foi uma incrível mulher, uma extraordinária mãe, uma singular escritora e é prestigiada como encantadora de números, a mãe dos softwares.
A história de Ada Lovelace
Nascida em 10 de dezembro de 1815 em Londres, Inglaterra, Ada Lovelace foi a única filha do poeta Lord Byron e sua esposa Anne Isabella Byron, Lady Wentworth. Entretanto, Byron não participou da infância de Ada, já que separou-se da esposa e morreu pouco tempo depois. Assim, a mãe foi a principal protagonista no incentivo aos estudos de matemática e lógica da garota que tempos depois viria a ser um nome ilustre na comunidade científica.
A mãe de Ada temia seus desvios por poesia por causa de Byron, tremendo que ela desenvolvesse qualquer insanidade como o pai. Entretanto, apesar da imersão no mundo dos números, Ada não abandonou as letras e também foi uma excelente escritora.
Seu envolvimento com tecnologia e programação começou cedo, com apenas 17 anos conheceu a senhora Mary Somerville, tradutora de obras do matemático e físico francês Pierre-Simon Laplace. Mary tinha contatos com grandes inventores e cientistas da época e estimulou que Ada estudasse matemática e tecnologia.
Assim, a educação de Ada foi peculiar ao passo que foi educada em casa, onde aprendia matemática e ciências com William Frend, William King e Mary Somerville. Tempos depois recebeu tutoria do matemático e lógico Augustus De Morgan, que, em uma carta endereçada à mãe de Ada, Lady Byron, afirmou que as habilidades matemáticas da jovem poderiam torná-la uma investigadora matemática de primeira.
Ada acreditava que a intuição e a imaginação eram fundamentais para pôr em prática conceitos matemáticos e científicos, talvez esses foram traços deixados por seu pai e pela poesia. Ela valorizava tanto a metafísica quanto a matemática, percebendo ambas como ferramentas eficazes para explorar “mundos invisíveis ao nosso redor”.
Em 1834, aos 19 anos, Ada foi convidada para um jantar na casa de sua então amiga Somerville, onde encontrou Charles Babbage, que estava trabalhando em um novo tipo de máquina de cálculo. Mais tarde, a calculadora de Babbage foi batizada de Máquina Analítica.
Em 1843, com apenas 28 anos, Ada era casada com o conde de Lovelace e mãe de três filhos. Foi nesse momento que a matemática traduziu um artigo de Menabrea, um resumo do funcionamento da máquina analítica de Babbage, a qual anos atrás ela ficara tão encantada, mas não pudera ajudá-lo.
Ao mostrar a tradução para o próprio Babbage, este sugere que Ada adicione suas notas pessoais ao artigo traduzido, o que resultou em um texto três vezes maior do que o original. Nos comentários, Ada sugere que a máquina poderia ser usada para produzir músicas complexas, gráficos precisos e ser utilizada tanto para desenvolvimento prático como científico.
Ela ainda sugeriu a Babbage um molde de como a máquina poderia calcular os números de Bernoulli, sequência matemática de números racionais intrinsecamente associada com a teoria dos números. Este plano é considerado o primeiro programa de computador do mundo. Anos depois, em 1979, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos desenvolveu uma linguagem de programação, e em homenagem à autora e seu feito, chamou a linguagem de Ada.
A Importância de Ada Lovelace para o Empoderamento Feminino na Programação
Apesar do pouco tempo de vida, Ada Lovelace foi uma grande mulher na história da Programação que deixou seu legado para outras mulheres até os dias de hoje, provando que podemos ser mulheres, mães, estudantes, escritoras e cientistas ao mesmo tempo ser nós mesmas, com nossa autenticidade e liberdade para lutar pelo que acreditamos.
Foi observando esse contexto que Louzada et al. (2019) desenvolveu a pesquisa intitulada “Agindo sobre a diferença: atividades de empoderamento feminino em prol da permanência de mulheres em cursos de Tecnologia da Informação”, que observou que a medida que a informática e a tecnologia ganharam cada vez mais espaço e valor, menos mulheres estiveram presentes nessas áreas. Assim, os autores destacam que o apagamento histórico do protagonismo feminino e os estigmas de gênero na área da educação foram os principais responsáveis por esse antiquado cenário.
Nesse sentido, falar sobre mulheres na ciência é uma atitude revolucionária, que propõe um contra-discurso das representações estereotipadas da mulher acerca de suas aptidões intelectuais. Assim, focando na computação, Louzada et al (2019) salienta que relatos após oficinas do projeto de extensão Ada Lovelace Day apontam que um elevado número de pessoas não têm conhecimento da quantidade de mulheres que contribuíram para a ciência ao longo da história. Muitas, inclusive, não conheciam a trajetória da primeira mulher programadora, Ada Lovelace.
Portanto, o espaço que estamos construindo é de extrema importância para o empoderamento feminino na programação. Além de proporcionar a oportunidade de mais pessoas conhecerem o percurso das mulheres na ciência, ainda podemos reforçar a quebra de estigmas que só desencadeiam preconceitos na profissão. Dominar um discurso que contempla Ada Lovelace e as inúmeras mulheres que constroem a história humana da computação contribui para que o apagamento das mulheres seja atenuado, ascendendo assim o protagonismo feminino.
Diversas estratégias têm sido usadas, no Brasil, para incentivar mais mulheres a entrar nesse mercado. O programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação (SBC, 2019) tem foco na programação, e com isso, foi utilizado uma estratégia de integrar Artes Visuais com Computação como forma de despertar o interesse pela área.
Assim, há farta literatura mostrando que existem grandes personagens femininas na história da computação, como por exemplo Schartwz et al (2006) que destacam Ada Lovelace, Grace Hooper e as mulheres que trabalharam na programação do ENIAC.
No caso específico de Ada Lovelace, uma estratégia que consiste no uso de uma escultura de Ada Lovelace desenvolvida com resíduos eletrônicos e oficinas com conhecimentos técnicos e de práticas Artes Visuais integradas em escolas públicas discutindo-se temas como gênero, obsolescência programada e descarte adequado de lixo eletrônico de forma interdisciplinar. Busca-se, então, dar visibilidade a Ada Lovelace, um dos vários modelos de referência na computação, mas desconhecida de alunos e alunas da educação básica.
No período em que Ada viveu, compunha a moda feminina europeia uma peça de vestuário conhecida como espartilho. Ele apertava o corpo na região da cintura, tornando-a mais fina à força e levantando os seios. Escritos da época relatam que tal prática causava danos à saúde das mulheres. Restringindo a caixa torácica de forma a dificultar a respiração, seriam comuns desmaios, bem como problemas digestivos e posturais causados pelo uso de espartilhos apertados demais.
Pode parecer contraditório que um recurso supostamente usado para “dar valor” ao corpo feminino seja tão prejudicial a ele, diminuindo suas forças, capacidades e velocidades. No entanto, entendemos seu sucesso se levarmos em consideração que os espartilhos se disseminaram numa cultura em que o melhor que uma mulher poderia ser era frágil, precisando ser salva por algum homem forte e inteligente. Entendemos também, portanto, o quão significativo é o trabalho de Ada Lovelace, que rompeu com tantos paradigmas como esse, que apenas mostravam que as mulheres precisavam sempre de um processo de alteração corporal e intervenção masculina. Ada Lovelace revoluciona pois nos mostra o quão brilhante as mulheres podem ser em qualquer área que queiram, não esquecendo, portanto, de quem são.
REFERÊNCIAS
BLUESOFT LABS. Ada Lovelace, a Encantadora de Números | Guilherme Cardoso | Papo Reto | T2E37. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aG-EdjKKbOI. Acesso em: 20 out. 2022.
LOUZADA, Natália; SANTANA, Thalia ; ASSIS, Ianka ; BRAGA, Ramayane ; BRAGA, Adriano . Agindo sobre a diferença: atividades de empoderamento feminino em prol da permanência de mulheres em cursos de Tecnologia da Informação. In: WOMEN IN INFORMATION TECHNOLOGY (WIT), 13. , 2019, Belém. Anais […]. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2019 . p. 69-78. ISSN 2763-8626. DOI: https://doi.org/10.5753/wit.2019.6714.
MARTINS, Maria do Carmo. Ada Lovelace: a primeira programadora da história. Correio dos Açores: opinião/regional. 28 jul 2016, p.14.
MEGHAN BARRET. The Poetical Science of Ada Lovelace. 2016. Disponível em:http://meghan-barrett.com/blog/2016/09/07/the-poetical-science-of-ada-lovelace/. Acesso em: 20 out. 2022.
Escrito por...
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Estudante de Letras Português e Inglês do Instituto Federal do Ceará, membro do grupo de pesquisa FORPED, redatora da revista DEVAS, participante do projeto LUA; apaixonada pela estudo dos idiomas, literatura e por tudo que é novo.
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Estudante de Letras Português e Inglês do Instituto Federal do Ceará, membro do grupo de pesquisa FORPED, redatora da revista DEVAS, participante do projeto LUA; amante de literatura, escrita criativa, dias frios e viagens.